A primeira conversa entre Azagaia e Samora
S - O auto-intitulado moçambicano falou muito de si quando cá chegou.
A - Cardoso?
S - Um tal de Jiles Suiss Taque. Os suíços de novo, os suíços… chegam hoje e já são bantus.
A - Não era suiço… ele nasceu na França e depois adquiriu nacionalidade moçambicana.
S - Já sabia. Não confio em pessoas que fumam cachimbo. Com o Cardoso e Mandela ainda não falei. O Cardoso anda extremamente zangado comigo, está muito revoltado, diz que nunca o escutei. Olhe, até aquela gente… aquela…aquela das convulsões dos anos 70, hoje, sentámo-nos à mesma mesa. O Mandela não sei muito bem, esquiva-se de mim, deve lá ter as suas razões; mas nós fizemos muito pela causa dos nossos irmãos sul-africanos.
A - Parece que o jornal do povo é apenas lido pelo povo! Talvez o Cardoso tenha razão. Mandela está cansado, que descanse graciosamente.
S - Que haja graça…. Falando em graça, tenho tido conversas graciosas com o meu amigo Mugabe.
A: Oh, meu deus, com esse não se deve associar.
S - Meu deus, meu deus! Eu não me associar a Mugabe? Ó miúdo, tu sabes quem foi o Mugabe? As nossas lutas são as mesmas.
A - Bom, há gente que temia que acabaria um combatente da fortuna como todos os outros.
S - Libertadores. As conquistas da revolução.
A - Ex-guerilheiros, ex-colonos, ex-colónias. E ex-libertadores?
S - São os linguistas que melhor entendem sobre questões semánticas.
A - Bandidos e malandros não estavam apenas na 2M e APIE. O inimigo não vinha de fora…
(silêncio…)
S - Deixa-me levantar e dar uma caminhada para me refrescar. Talvez vá falar com o Marcelino. O que se senta por tudo, levantar-se-á por nada. Não é verdade?
A - … é verdade… mas deveria falar com o Cardoso primeiro…
(…não continua)