Como é que esses idiotas têm comboios e nós não?
Ichi-san (I) - A sério, como é que esses idiotas têm todos esses comboios? O país não estava aos escombros há bem pouco tempo?
Ni-san (N) - Ah… meu amigo, a resposta é um verdadeiro quebra-cabeças: circunstância, investimento, projecção e seriedade; vê, por volta dos anos 1850, eles estavam bem folgados com a sua paz interna, estabilidade social e altas taxas de alfabetização… na mesma altura, por meio de força e vontade, descobriram que tinham um desenvolvimento económico e tecnológico retrógrado.
I - Mas afinal, os ingredientes secretos não são paz, sociedade estável e educação?
N - Provavelmente sim… Mas qual é a duração de um jogo de efeito dominó se empurrarmos a primeira peça para o sentido oposto das outras? Ora bem, saltemos para o período pós-guerra, de onde vem a tua pergunta. Eles organizaram os jogos olímpicos de 1964 e, ávidos de mostrar ao mundo a sua pujança económica, desenvolveram e lançaram os comboios de alta velocidade conhecidos como Shinkansen.
I - Ahan, nós também mostramos a nossa pujança quando organizamos os jog… Oh, desculpa-me, continua, continua…
N - Estava a dizer que, desde então, os tipos estão na vanguarda da tecnologia ferroviária e o Shinkansen de hoje atinge velocidades acima de 300km/h.
I - Agora tudo faz sentido. Começaram lá atrás, há bom tempo. E esse negócio de comboio que levita?
N - Hahaha… afinal eles não começaram ‘há bem pouco tempo’? Bom, essa é a fase actual, a fase dos chamados magLev (levitação magnética). São ‘superconduzidos’ por (electro)imãs e toda essa parafernália de pólos que se atraem ou se repelem: quando está parado ou indo a menos de 100km/h, o comboio usa rodas normais, mas a partir de 100km/h, as rodas retraem-se, levitando mais ou menos 10cm acima da linha.
I - Wow, mas isso é magia, meu Deus!
N - Não entendo patavina sobre os detalhes técnicos, porém, diz-se que quando os super-resfriadores atingem a temperatura certa, repulsão aqui, atracção ali, bobinas em toda parte, superconductores a superconduzirem, atinge-se o campo magnético ideal, e o comboio ‘simplesmente’ levita.
I - É óbvio que eles não enfrentam as mesmas barreiras de mão estrangeira, neocolonialismo e tal…
N - Acredito que sim… No entanto, depois do sucesso do Shinkansen, em 1969, o país (linhas aéreas e os caminhos de ferro) voltou de novo ao laboratório para reduzir a fricção entre a linha e o comboio, com o objectivo de encurtar a viagem de Tokyo a Osaka de 4 para menos de 2h. Este foi o início do investimento na tecnologia de levitação magnética. Até 1975, no seu espaço de teste de 7km, o grupo de trabalho já tinha um protótipo que atingia 400km/h. Nos anos 90, construíram uma nova linha magLev de 20km e desenvolveram um comboio completinho com capacidade para 700 pessoas e velocidade de 500km/h.
I - Hahaha, se eles já tinham um comboio funcional nos anos 90, por que demoraram tanto?
N - Oh, há mais do que o título e orgulho nacional, meu amigo Ichi. Apesar de reduzir o tempo de viagem para 1h30min, faltava justificação económica. O magLev competiria contra o Shinkansen, que faz o mesmo trajecto em 2h30min, e aviões que, descontando todo o processo até ao embarque, são mais rápidos.
I - Tudo bem, tudo bem… existe um preço a pagar?
N - Com certeza! Não tenho os números de pesquisa e desenvolvimento: os primeiros 200km (Tokyo a Nagoya), previstos para 2027, custarão quase 14 biliões de dólares, cerca de 11 vezes mais do que o custo do mesmo troço durante a construção da linha do Shinkansen.
I - Talvez tenha chegado a altura de considerarmos uma ajudinha para adoptar esses magLevs e sermos o primeiro país africano a fazê-lo.
N - Quem sabe com um pouco de magia magnética, finalmente, nós também flutuaremos para o presente.